Esta entrevista é de propriedade de Omichive7 feita em 26 de Novembro de 2025. Nós apenas traduzimos, sendo assim com os devidos créditos dados aqui.
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P. Olá, obrigado por topar esta entrevista. Primeiro… o nome do álbum é 'LAGEON', qual é o significado?
O prazer é meu! “LAGEON” era o nome de um restaurante que meus pais tinham quando eu era criança. Acho que, fora a minha família, praticamente ninguém deve se lembrar desse nome. Na verdade, talvez hoje só a minha família mesmo conheça.
Usei porque gosto dessa vibe meio mítica que ele tem e pra mim também é uma palavra cheia de nostalgia.
P. O som do álbum é cheio de diferentes tipos de ruído — espalhados, distorcidos, em várias formas. Gostaria de saber se houve uma intenção clara por trás de criar um disco com esse tipo de sonoridade.
Acho que eu realmente gosto muito da cultura dos anos 90. Foi a última era do rock, e quando vejo as músicas, os vídeos e os registros daquela época, tenho a sensação de que muitos artistas acreditavam de verdade que o mundo ia acabar no novo milênio. Também existe aquela vibe de “última era analógica”, e isso sempre me atraiu muito.
Na cena do rock, foi quando a estética do ruído chegou no auge, e fui bastante influenciado por essas bandas.
Havia músicas cheias de ruído por causa das limitações dos gravadores de fita cassete, e também havia bandas que usavam o ruído de propósito. É impressionante como elas conseguiam transformar a imperfeição em algo tão perfeito musicalmente.
E, se você for parar pra pensar, no dia a dia estamos mais acostumados a ruídos de máquinas, barulho de obra, white noise, do que com harmonias perfeitas. A gente só não costuma prestar atenção neles como música.
P. “Best Thing” foi a faixa de que mais gostei, e pelas letras me pareceu que você encontrou alguém fora do mainstream, alguém com faltas e vulnerabilidades parecidas com as suas. Não estou perguntando quem é essa pessoa, e sim tentando entender a sua postura de se manter distante do mainstream.
De que tipo de mainstream você se distancia? E, se minha interpretação estiver errada, por favor, me corrija.
As letras falam de um sentimento de desesperança e frustração que eu senti nesta época, mas projetado em um personagem fictício. Quando escrevo desse jeito, costumo usar ficção mesmo, criar um alvo e um cenário imaginários facilita transmitir ao ouvinte a emoção que quero passar.
Eu quero que esse álbum console pessoas que são parecidas comigo. Sempre fui muito introvertido, alguém que se perde fácil nos próprios pensamentos, e talvez esse meu lado tenha acabado sendo refletido nas músicas, o que pode ter feito você interpretar que eu tento manter distância do mainstream.
Acho essa leitura bem interessante.
P. Você disse que “critica o espírito da época em que tudo é consumido de forma leve e descartável”. Mas, como artista, o fato de até sua música, feita com tanta sinceridade, poder ser consumida dessa mesma forma mostra como esse espírito da época é enorme, quase esmagador. Isso pode facilmente gerar um sentimento de impotência.
Para resistir a esse fluxo de “consumo leve”, existe alguma abordagem que você adota de propósito no processo criativo ou na forma de lançar sua música?
A faixa “쥐 (Rat)” nasceu de uma imaginação: "E se Kurt Cobain tivesse nascido na era atual?" Acho que seria bem desesperador. A gente admira artistas do passado justamente porque eles viveram aquele momento. Mas, se eles estivessem vivendo hoje, talvez seus discos incríveis acabassem só escorrendo pelo feed e sendo esquecidos no meio da enxurrada de informação… e os próprios artistas virariam só um meme. Pensar nisso me deixa muito triste.
Mas, ao mesmo tempo, eu sinto que a música atual, essa que é consumida de forma tão rápida, também tem seu charme. Ela me passa uma sensação parecida com a de apreciar uma obra de arte contemporânea.
Pra mim, não existe arte cara ou barata, melhor ou pior.
Então, em vez de resistir a esse modo de consumo, eu acho que mesmo se este álbum for consumido de forma leve, isso não está errado. Na verdade, tem faixa, como “cache”, que eu acho que só se completa quando é consumida exatamente desse jeito.
P. A line-up de participações tem personalidades bem fortes, mas ao mesmo tempo parece que existe algum ponto em comum entre elas. Teve alguma intenção nisso?
Harto Falión, that same street e Parannoul, os três têm um entendimento musical muito alto e escrevem letras muito bem. Como cada um tem uma identidade muito marcante, o papel de cada um na música acabou ficando bem diferente também. Trabalhei com eles pensando como se estivesse adicionando instrumentos especiais ao álbum. Acho que graças a isso as cores das músicas ficaram bem mais vivas.
Gosto dessa vibe meio “sem nacionalidade”, misturando inglês, japonês e coreano.
E como eu vejo a internet quase como minhas raízes, trabalhar remotamente não foi nada fora do comum pra mim.
P. Quero perguntar sobre a arte da capa. Parece que o estilo das ilustrações se divide mais ou menos em dois tipos. Qual deles é o foco principal? Imagino que você tenha trocado muitas ideias com o ilustrador, tinha alguma direção específica, tipo “queremos destacar tal sensação” na arte?
Trabalhei com o @pangchoucowboy, que foi uma recomendação do diretor criativo do meu álbum, o Hong Chanhee. Achei que ele entendia muito bem esse caos, esse kitsch e esse “estilo internet”, então quis colaborar com ele.
Passei previamente todas as infos das músicas, letras, conceito e até do meu histórico pessoal, e ele conseguiu refletir tudo isso nos detalhes, então fiquei bem satisfeito.
Curti especialmente o fato de ele ter incluído minha origem litorânea, e também o post-it mencionado na faixa 1.
Além disso, tem vários detalhes grandes e pequenos escondidos pela arte, então é divertido ficar reparando.
P. Sei que o nome artístico “the student” veio do seu lema “em todo momento há algo a aprender”. Você poderia compartilhar algo que tem aprendido recentemente, musicalmente ou fora da música?
Aprendi muita coisa trabalhando com o hyung Junkyard (JNKYRD) durante os processos de arranjo, gravação e mixagem. Sempre que colaboro com outras pessoas, consigo ouvir feedback direto, e isso ajuda muito a manter a autocrítica em dia.
Depois de ficar 2 ou 3 anos sozinho, preso no meu próprio mundinho compondo, chegar na fase final e começar a aparar e lapidar esses sons junto com alguém… não é fácil. Sempre descubro um lado meu que eu mesmo não tinha percebido.
É divertido, dói, e eu aprendo pra caramba. Foi um período curto, se pensar bem, mas recebi muita influência boa em pouco tempo. Ficou como um momento muito precioso pra mim.
P. É uma pergunta que talvez fuja um pouco do álbum, mas existem muitos casos em que a música interage fortemente com narrativas pessoais. Qual é a sua visão sobre isso?
A. Eu prefiro criar histórias que só eu posso contar, ao invés de me expor de forma tão direta. Gosto de deixar espaço para que quem ouve interprete de acordo com a própria vivência.
Durante o período em que fiz o álbum, acho que passei com frequência por uns buracos emocionais bem profundos, sabe? Esse sentimento ficou impregnado nas músicas. Eu queria que alguém se sentisse acolhido por isso, e que alguém, por outro lado, pudesse me acolher também.
Q. Parece que você se preocupa com muitas coisas — experiências do passado, cenas que estão acontecendo agora, talvez até imagens do futuro que você imagina. Às vezes acontece algo assim: é mais fácil desabafar anonimamente numa comunidade online do que abrir o coração para um amigo próximo na vida real.
Ou seja, fico pensando se “o mundo dentro da tela” não teria sido uma espécie de grande tela em branco para o seu novo álbum. Para encerrar, gostaria de ouvir o que você pensa sobre a internet.
A. Desde pequeno, eu sonhei através desse aparelhinho que cabe na palma da mão.
Eu só consegui me tornar quem sou como músico graças às informações que encontrei na internet.
Mesmo que, para alguns, tudo isso não passe de fragmentos de dados. Tem coisas lá que permanecem exatamente como eram no passado, e por isso você pode voltar pra aquele momento sempre que quiser. Espero que esse álbum também possa funcionar assim: que, com o tempo, ele se encha das memórias de cada um de vocês, e que, sempre que ouvirem minhas músicas, possam voltar para aquela atmosfera, como se fosse um portal.