Esta entrevista é de propriedade de Eastern Standard Times feita em 5 de Dezembro de 2024 por Andrew Yee. Nós apenas traduzimos, sendo assim com os devidos créditos dados aqui.
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Depois de anos trabalhando juntos, as bandas independentes Hyukoh e Sunset Rollercoaster uniram forças pra criar um álbum único, AAA. O Eastern Standard Times bateu um papo com os vocalistas OHHYUK e Kuo sobre a jornada até AAA e o poder da música como uma linguagem universal.
AAA é o álbum colaborativo entre os sul-coreanos do HYUKOH e os taiwaneses do Sunset Rollercoaster. Pra ambas as bandas, o projeto marca o início de uma nova fase, depois de quatro anos longe dos holofotes.
No começo de 2020, os integrantes do HYUKOH e do Sunset Rollercoaster trocaram uma ideia rápida enquanto passavam por Tóquio. A conexão daquela noite, cheia de admiração mútua, rendeu participações nos projetos futuros de cada um. Mas ainda ficou aquela vontade de fazer algo mais integrado. Foi só em 2023 que eles arrumaram tempo pra um retiro criativo único em Gapyeong. Longe de qualquer distração, os dois grupos mergulharam em sessões intensas de jam e improvisação, deixando a inspiração fluir e seguindo o rumo que a música apontava. O resultado foi AAA, que ganhou ajustes ao longo do ano em Seul, na Ilha de Jeju e em infinitas trocas de e-mails.
AAA é um mosaico sonoro cheio de experimentação. Vocais melódicos e uma pegada instrumental psicodélica se entrelaçam lindamente nas oito faixas. Para as bandas, era essencial não ficarem presas a uma narrativa linear. O projeto busca traduzir sentimentos indescritíveis, ultrapassando barreiras culturais e limitações linguísticas. Como uma “trupe de andarilhos musicais” autoproclamada, o coletivo passou os últimos dois meses rodando pela Ásia com sua primeira turnê, levando essas vibes únicas pro palco.
Confira abaixo nossa entrevista com OHHYUK (HYUKOH) e Kuo (Sunset Rollercoaster) sobre AAA, primeiras impressões e o processo de colaboração.
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‘AAA’ (foto: cortesia de Hyukoh & Sunset Rollercoaster) |
Eastern Standard Times:
Como vocês se apresentariam hoje? Qual é a coisa mais importante que devemos saber sobre quem vocês são atualmente?
Kuo:
Eu me apresentaria como vocalista, guitarrista e produtor musical do Sunset Rollercoaster, além de ser o dono do meu selo, o Sunset Music.
OHHYUK:
Eu sou o OHHYUK, do HYUKOH. Toco guitarra, canto e também sou o produtor da banda. Enquanto ele (Kuo) tem o próprio selo, eu sou do selo DooRooDooRoo e foco principalmente na parte criativa.
Eastern Standard Times:
Quais foram as primeiras impressões que vocês tiveram um do outro?
Kuo:
Tímido, mas corajoso ao mesmo tempo. Ele faz as coisas, só que de um jeito tímido.
OHHYUK:
Muito inteligente, talentoso e esperto. Quando o conheci, percebi na hora que ele era algo bem diferente, e que fazia o trabalho dele muito bem.
Eastern Standard Times:
Os últimos lançamentos de ambos os grupos foram em 2020. Por que este projeto parecia o retorno ideal?
Kuo:
Foi muito empolgante. Desde o início, a gente não esperava que faríamos um projeto tão grande.
A gente achava que ia só fazer umas músicas, talvez duas ou três, um EP pequeno e especial. Mas, aos poucos, as ambições começaram a crescer durante o processo.
OHHYUK:
Eu lembro que, entre 2017 e 2018, de repente começaram a surgir várias colaborações. Eu queria colaborar com outros músicos, mas não queria fazer só um single ou uma faixa. Quando perguntei pra ele (Kuo) se toparia fazer um álbum, ele aceitou. Acho que é uma colaboração muito interessante, algo que eu já estava esperando há um tempo.
Eastern Standard Times:
Vocês ficaram nervosos por voltar a lançar música?
OHHYUK:
Vocês estão nervosos?
Kuo:
Não, nem um pouco.
OHHYUK:
É, eu também não.
Eastern Standard Times:
Quais são as suas lembranças do primeiro retiro de composição no Music Village 1939, em Gapyeong?
OHHYUK:
Ah... a comida era… ruim.
Kuo:
É uma cidade pequena. Acho que nem esperávamos encontrar comida boa por lá, mas no final das contas, acabamos comendo a mesma coisa a semana inteira. Mas, sinceramente, não ligo pra isso, porque de alguma forma conseguimos fazer músicas incríveis. Então, mesmo com a comida ruim, valeu a pena.
Eastern Standard Times:
Como é o processo de criar música com dez músicos diferentes? Vocês abordaram todas as músicas da mesma forma?
Kuo:
A gente criou quatro músicas durante as sessões de jam em Gapyeong. As outras oito foram feitas pela internet, trocando arquivos. Também fomos à casa de um amigo, que tinha um monte de sintetizadores montados, então eu e o OH fizemos uma jam por lá e finalizamos o arranjo de 'Antenna' (ou 'Aaaannnnteeeeennnaaaaaa'). Diria que usamos várias abordagens diferentes pra criar o álbum.
Eastern Standard Times:
Como viajar para Seul e para a Ilha de Jeju influenciou o processo de composição?
Kuo:
Quando fomos pra Ilha de Jeju, o álbum já estava quase finalizado, na verdade. Meio que concordamos em fazer mais uma música lá, mas ainda não sabemos o que vamos fazer com ela.
OHHYUK:
A viagem foi mais como umas férias, na real. Estava nevando, então ficamos presos no Airbnb, mas tinha uma piscina, e ninguém estava nadando. A gente acabou usando a piscina como uma câmara de reverb e gravamos lá dentro e em outros cômodos. Foi bem divertido.
Eastern Standard Times:
O que AAA significa pra cada um de vocês?
OHHYUK:
Algo bom.
Kuo:
Algo confiável, em que dá pra acreditar. É garantia de que o seu tempo será bem gasto.
Mesmo que o inglês não seja nosso idioma nativo, de alguma forma ainda fazemos música em inglês. A gente curte essa abordagem e como tentamos criar um espaço para todas as letras que escrevemos. Tentamos descrever uma situação, mas sem contar uma história fechada, pra que cada pessoa possa projetar sua própria ideia sobre a música ou o álbum.
Acho que AAA tem vários significados e cada um pode dar o seu próprio sentido pra isso. É assim que interagimos com as pessoas.
Eastern Standard Times:
Em uma entrevista de 2020, o Kuo falou sobre a música ser uma linguagem própria que conecta as pessoas. Por que essa ideia ressoa tanto com vocês dois?
OHHYUK:
Porque viemos de origens culturais diferentes. Mesmo que eu fale mandarim, ainda existem pequenas diferenças. Mas a música é bem simples: se você toca algo, sabe na hora se é bom ou ruim. Acho que essa abordagem deixa tudo mais fácil.
Kuo:
Pra mim, música é uma linguagem, sem dúvida. Acho que ela está gravada nos nossos genes ou instintos animais; quando você ouve algo, sente uma resposta emocional. É um tipo de comunicação subconsciente, eu diria. É por isso que acredito que todo mundo tem essa capacidade de se comunicar, seja pela música ou por frequências.
E acho que é daí que vem nossa conexão pra criar música. Nossas frequências, de alguma forma, combinam.
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Hyukoh e Sunset Rollercoaster se apresentando em Kuala Lumpur (foto: Dasom Han) |
Eastern Standard Times:
Como o público australiano é diferente de outras plateias?
Kuo:
Já estivemos na Austrália antes. Acho que, na Ásia, nossos fãs geralmente são mais quietos, mas toda vez que vamos para países ocidentais, especialmente a Austrália, as pessoas ficam mais empolgadas. A Austrália é meio especial porque mistura elementos de países ocidentais e asiáticos, mas dá pra perceber que as pessoas lá ficam mais animadas.
As pessoas se movimentam mais com a música. Em Taiwan, o público só senta lá e parece que estão nos julgando. Eles estão felizes por dentro, quase explodindo, mas a forma como curtem o show é nos encarando e julgando — e é assim que funciona.
Eastern Standard Times:
Onde vocês gostariam de se apresentar a seguir?
Kuo:
Na Antártica. Tocar pra umas baleias.
OHHYUK:
Na verdade, na Índia.
Kuo:
Ah, é verdade, ele quer ir pra Índia.
OHHYUK:
Nunca fui, então realmente quero fazer um show lá.
Eastern Standard Times:
Qual é uma coisa que ninguém sabe sobre vocês?
Kuo:
Meu aniversário e o do OH são separados por apenas um dia. O meu é 6 de outubro.
OHHYUK:
E o meu é 5 de outubro.
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