Esta entrevista é de propriedade de Interview feita em 8 de Novembro de 2024 por Lily Kwak. Nós apenas traduzimos, sendo assim com os devidos créditos dados aqui.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
![]() |
Hyukoh e Sunset Rollercoaster, fotografados por Dasom Han |
Se você liderar um grupo de 40 pessoas no coração de Taipei, pode ser um guia turístico. Ou pode estar em turnê com as bandas indie Hyukoh e Sunset Rollercoaster, que acabaram de hipnotizar os fãs com dois shows lotados consecutivos em Seul e Taipei. Para comemorar, a trupe diversa se reuniu em um bar underground chamado The Fucking Place. “Quase tive um TEPT,” brinca Kuo-Hung Tseng, vocalista do Sunset Rollercoaster.
Mas os sonhos verdadeiros de Kuo e Oh Hyuk, líder do Hyukoh, estão longe dali — em algum lugar nas montanhas do Camboja indígena, onde eles se transformam em marcianos punk rock armados com saxofones, acordeões e autoharpas elétricas. O álbum psicodélico colaborativo AAA é o resultado de um hiato de quatro anos, que começou como uma jam session e evoluiu para uma obra marcante com oito faixas que sonha em três idiomas, estética à la Wong Kar Wai, mandopop, estilo de rua colombiano e muito mais.
No mês passado, durante uma chamada no Zoom, os dois vocalistas revelaram as inspirações por trás do estilo eclético, seus hábitos de bebida e o que escutam na estrada — além do motivo pelo qual Kuo está ansioso para voltar a Bangkok.
----------------------
KWAK: De onde vocês estão falando?
KUO: Estou falando da China.
OH: De Seul.
KWAK: Qual é o seu bairro favorito em Seul?
OH: Tem uma área chamada Yeonhui. Muita gente conhece Hongdae. Mas hoje em dia lá tá bem turístico, então todas as lojinhas legais e charmosas se mudaram pra uma área chamada Yeonnam, que fica ao sul de Hongdae. E “hui” significa oeste, então Yeonhui fica logo a oeste de Yeonnam.
KWAK: Ah, legal. Então vocês acabaram de passar pelas bases principais, Seul e Taipei, com shows lotados em locais gigantes. Como foi isso?
OH: Foi muito bom. A gente não fez turnê nos últimos quatro anos, então eu tava um pouco nervoso, mas de alguma forma deu tudo certo. Tô super feliz com isso.
KWAK: Alguma interação memorável com fãs nessas duas cidades?
OH: Lembro de uma mulher que escreveu alguma coisa e ficou me mostrando. Ela escreveu: “Por favor, me dá sua palheta de guitarra.” Aí tentei jogar pra ela, mas meio que deu errado. Então não sei o que aconteceu depois.
KUO: Eu lembro disso! Você precisa acertar um ângulo especial pra garantir que a palheta gire e voe longe o suficiente.
KWAK: Vocês têm 10 pessoas entre as duas bandas e 45 pessoas na lista da turnê. Vocês fazem jantares em família? Parece tipo um acampamento de verão? Qual é o clima?
KUO: Eu quase tive TEPT depois de sair com esse grupão todo. Lembro que, depois do show em Taipei, tentei levar todo mundo pra um clube underground de techno chamado Pawn Shop. Mas eles têm uma política super rígida de segurança e revista, então não sabia como ia conseguir levar todo mundo pra esse lugar. No fim, a gente foi pra outro bar underground chamado The Fucking Place.
OH: Todo mundo tava bêbado e fumando lá dentro. Era tipo um clima feliz e meio fedido.
KUO: É exatamente como ir a um churrasco coreano, cheio de fumaça da grelha.
KWAK: Adorei isso. Bem a cara da Coreia: comer, beber e fumar. O que vocês aprenderam um sobre o outro desde que começaram a turnê?
KUO: Acho que estamos na mesma idade mental, mas fisicamente minha idade corporal é uns 37, enquanto os membros do Hyukoh têm uns 30. Depois das 3 da manhã, já fico tipo “Caramba, não tô mais aguentando acompanhar.”
KWAK: Vocês têm algum ritual antes do show?
KUO: A gente sempre toma um shot juntos.
KWAK: E o que vocês bebem?
KUO: Alguns bebem gin, outros bebem uísque.
OH: Algo forte.
KWAK: Quando vocês se conheceram, tudo começou com uma jam session e acabou virando um álbum com oito faixas. O que chamou a atenção no trabalho um do outro quando se conheceram?
KUO: Acho que nunca estabelecemos metas ou dividimos o trabalho de forma rígida. Por exemplo, alguém prepara um demo, outro cria uma melodia. A gente só entra no estúdio e tenta se divertir. Todo mundo naturalmente encontra sua função. Quando estamos improvisando, alguns tentam criar uma visão geral, enquanto outros só ficam curtindo o momento, tocando acordes altos de guitarra sem se importar. Mas mesmo assim, a música sai boa, e isso é muito divertido.
KWAK: As capas dos álbuns e os videoclipes de vocês são super envolventes. Em uma imagem, vocês aparecem como moradores indígenas das montanhas, e em outra como seres extraterrestres. Qual foi o processo de criação dessas ideias?
OH: A capa do álbum do ano passado foi feita por um cara chamado Chanhee e um grupo chamado Balming Tiger, da Coreia. Eu e o Chanhee criamos essas imagens usando IA. No total, fizemos quase 157 imagens. Tem a capa principal e a capa do vinil, que é um pouco diferente, e ambas vieram dessas imagens estranhas geradas por IA.
KWAK: Também adorei os coques laterais que aparecem em um dos clipes de vocês. Me lembrou de um filme mexicano que assisti há alguns anos chamado Não Estou Mais Aqui. Tem um clima bem parecido. De onde veio essa inspiração?
OH: Na verdade, é desse filme mesmo.
KUO: Bingo!
OH: É, bingo. Eu assisti lá por 2020 ou 2021. E naquela época, eu já curtia bastante esse estilo de calças largas e hoodies pequenos. Depois de assistir ao filme, fiquei muito interessado nesse estilo colombiano, tanto na música quanto no que as pessoas que escutam usam. Então usamos um pouco dessa estética no nosso visual.
KWAK: Falando em misturar estéticas diferentes, vi uma música que você produziu com a IU usando amapiano. Você ouve Tyla? A música Water dela é muito inspirada nesse estilo.
OH: Sim, sim.
KWAK: Curte as músicas dela?
OH: A Tyla é super legal. Ela é muito fofa e a música é muito boa. Vi que ela esteve em Seul algumas semanas atrás, mas acabei perdendo.
KWAK: Também queria perguntar sobre o estilo pessoal de vocês. Como descreveriam em poucas palavras?
KUO: Eu ainda sou meio nerd, mas agora estou no final dos meus 30, então meu lado nerd tá ficando um pouco caro. Sou nerd, mas tentando usar um Rolex também. Tô tentando integrar itens de luxo no meu visual diário, meio nerd e zoeiro, e transformar algo caro em algo engraçado.
KWAK: Tipo sátira.
KUO: Isso, sátira. É uma sátira asiática.
KWAK: O que vocês ouviam enquanto cresciam?
KUO: Minha relação com a música era meio estranha porque cresci numa família cristã, frequentando a igreja, e minha mãe trabalhava com a YMCA. Eu ouvia Linkin Park e Limp Bizkit e usava um programa de downloads chamado Kaza. Aí lembro que um professor veio e falou: “Para de ouvir essa porcaria.” Ele começou a me apresentar Bob Marley, Jimi Hendrix e The Beatles. Ele era um cara super branco, mas os olhos dele estavam sempre vermelhos.
KWAK: Quem cuida do som quando vocês estão viajando entre os shows?
KUO: Geralmente, todos nós.
OH: O Kuo me apresentou muitos álbuns e músicas novas, mas não temos tanto tempo para descobrir tudo. Então, acabo ouvindo de tudo. Por exemplo, uma vez, depois do show, fomos ao escritório de música do Sunset e ouvimos Gong Gong Gong juntos. Também Mong Tong e Primal Scream.
KWAK: O que tem no rider da turnê de vocês?
KUO: Um remédio chinês especial chamado Pei Pa Koa. Ele deixa sua garganta super macia e hidratada, e demora dois meses para ser feito. Então sempre tem algo de medicina chinesa por perto. Antes do show, misturamos com água quente, mexemos e bebemos.
KWAK: Quais músicas vocês estão mais animados para tocar? Quais têm as melhores reações?
OH: Para mim, sempre “Clair de Lune” e “Kite War,” que é a primeira faixa.
KUO: A minha é “Citizen Kane,” com certeza. Agora que tô quase nos 37, ela me faz sentir jovem.
KWAK: As músicas de vocês são muito românticas, aliás. São como cartas de amor.
OH: Sim.
KUO: Odeio isso. Brincadeira.
KWAK: Qual lugar vocês estão mais ansiosos para tocar na sequência?
OH: Japão.
KUO: Provavelmente Tailândia. Tive um casamento em Ko Samui há alguns meses e voltei para Bangkok, mas acabei perdendo as joias da minha esposa no restaurante. Então preciso voltar para Bangkok.