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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

SSENSE | Bandas na estrada

   Esta entrevista é de propriedade de Ssense, feita em Abril de 2025 por Hyunji Nam, nós apenas traduzimos, sendo assim com todos os créditos dados aqui.

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HYUKOH e Sunset Rollercoaster, duas das bandas mais influentes de Seul e Taipei, estão encerrando uma turnê mundial pra comemorar o álbum que lançaram juntos. Aqui está o que eles aprenderam sobre derrubar todas as barreiras.


“Tocar numa banda ainda é maneiro.”

Do outro lado da tela, o vocalista do Sunset Rollercoaster, Kuo-Hung Tseng, sorri. Desde que lançaram o álbum conjunto AAA no ano passado, a banda taiwanesa e os sul-coreanos do HYUKOH — referência no indie de Seul — têm seguido uma agenda de turnê lotada. Estamos conversando pouco antes do show em Singapura. Dizer que eles chegaram até aqui só por irem atrás do que é “legal” seria simplificar demais — cada banda traçou seu próprio caminho, único e cheio de influência.


O HYUKOH, que já está completando uma década de estrada, começou como uma banda indie com um som meio nostálgico, mas faz tempo que deixou esse rótulo pra trás. Desde a estreia em 2014, o vocalista Oh Hyuk virou um ícone de estilo entre os jovens asiáticos, fechando parcerias com marcas como Bottega Veneta e Balenciaga. O próprio Virgil Abloh tocava faixas do HYUKOH nos desfiles dele e chegou a usar peças da marca criada pelo Oh Hyuk como forma de homenagem. A banda também trabalhou com Wolfgang Tillmans na capa do álbum through love. Mais recentemente, Oh Hyuk se juntou ao ícone japonês do street style Hiroshi Fujiwara em Seul para a exposição Funeral for a Friend.

Já o Sunset Rollercoaster surgiu na cena indie de Taipei em 2009, numa época em que quase não existiam bandas taiwanesas cantando principalmente em inglês. Essa escolha ajudou a banda a se conectar com o público global, destacando ainda mais o som deles na cena local. O nome da banda veio de um preset antigo do Photo Booth do Mac — uma imagem de um pôr do sol gigante atrás de uma montanha-russa. A faixa que virou um marco na carreira deles, “My Jinji”, já passou dos 100 milhões de streams no Spotify, consolidando o sucesso da banda muito além da Ásia.

O álbum conjunto AAA foi criado ao longo de um ano, a partir de maio de 2023, como um diálogo à distância entre os estilos distintos das duas bandas. O disco mistura a instrumentação rica e direta do HYUKOH, os vocais marcantes de Oh Hyuk e as melodias românticas do Sunset Rollercoaster com letras poéticas. As oito faixas marcam o retorno das duas bandas e contam com colaborações de artistas em alta, como @seoulsoloist e a fotógrafa Zhong Lin, conhecida por seus visuais impactantes — tudo isso pra criar algo novo e original.

A capa do álbum AAA, gerada por IA. O logo do AAA foi inspirado nas fontes em inglês usadas em restaurantes de imigrantes chineses nos Estados Unidos. O visual principal é de Chanhee Hong (@seoulthesoloist).
A arte foi criada por Na Kim. Imagem do topo: fotografada por Zhong Lin.

Quando AAA foi lançado, em julho de 2024, o jornalista musical e autointitulado “fã profissional de música” Derrick Gee correu pro Instagram e TikTok pra apresentar a faixa atmosférica “Aaaannnntttteeeennnnaaa” como “Ambient brilhante coreano/taiwanês”. O vídeo curto que ele postou ultrapassou 7 milhões de visualizações nas duas plataformas.

“Eu tava guardando essa música como um segredinho meu, querendo tocar ela em algum momento porque sabia que ia soar mágica,” contou Derrick à SSENSE. “Com que frequência bandas de países e idiomas totalmente diferentes se juntam? Quase nunca. Essa colaboração é super única, mas faz todo sentido — tanto no som quanto na estética. Duas bandas indie mega estilosas de suas regiões, com um som calmo, melódico, experimental, mas ainda com aquele toque pop que gruda.”

Agora que estão se preparando para o último trecho da turnê — um show de encerramento em Seul no fim de abril — HYUKOH e Sunset Rollercoaster refletem sobre o que significa colaborar além de nacionalidade, idioma e fronteiras, unidos por uma amizade de longa data.

Oh Hyuk e Kuo-Hung Tseng. Fotografia por Dasom Han.

Qual é a faixa favorita de vocês da banda um do outro? Teve alguma música que fez pensar: “essa banda é especial”?

Oh Hyuk: A primeira música que ouvi deles foi “My Jinji”. No começo, nem percebi que era uma banda asiática. Curti demais. Mas, se tiver que escolher uma, “Burgundy Red” me marcou — ela é super densa, quase como se fosse picante, sabe?

Kuo: Eu amo “Gondry”, principalmente depois que o Oh me contou que foi inspirada na demo dos Strokes, “I’ll Try Anything Once”. Isso fez eu gostar ainda mais. O processo de composição do Sunset normalmente é mais cheio de camadas, com várias mudanças de acordes e arranjos mais complexos. Mas “Gondry” vai na contramão — é super simples nos acordes, e a melodia conduz tudo. Ela transmite a alma da música de um jeito bem direto.

O Sunset Rollercoaster tem cinco integrantes, enquanto o HYUKOH tem quatro. Como foi trabalhar como um time de nove pessoas nesse álbum? Qual foi a parte mais desafiadora?

Oh Hyuk: Na verdade, éramos dez, contando com nosso coprodutor, o Junkyard. [Ele também trabalhou com o time do RM.]

Kuo: O desafio real foram as letras. A gente adora criar camadas sonoras, e com mais gente, deu pra explorar isso ainda mais. Mas quando fazemos demos, geralmente cantamos com palavras aleatórias, e acabamos nos apegando ao som delas. Aí, quando chega a hora de escrever as letras de verdade, fica difícil — temos que achar palavras que encaixem tanto no significado quanto no fluxo original da melodia. Mas, em certo ponto, decidimos só deixar rolar e parar de pensar demais.

Alguns dizem que estamos vivendo uma era de ouro para bandas na Ásia. Como vocês veem esse cenário em 2025?

Oh Hyuk: Acho que isso está acontecendo mais na Coreia, e de forma passageira. O declínio do hip-hop por aqui abriu um pequeno espaço pras bandas, mas no geral, sinto que a cena está encolhendo. Claro, não dá pra prever o futuro, mas com mais músicos surgindo, produções maiores e orçamentos crescendo, o cenário está mudando.

Kuo: Tocar em banda hoje em dia parece quase um ato romântico. Nosso tecladista, Shao-Hsuan Wang, tem um estúdio de ensaio. Antes, era cheio de jovens ensaiando e tocando covers, mas esse número vem caindo. Tocar em banda está começando a parecer algo vintage, tipo uma sinfonia clássica.

Aprender instrumentos também é caro, então montar uma banda virou um privilégio de quem tem mais grana. Enquanto isso, a galera com menos recursos vai direto pro computador, usando MIDI e samples pra criar música. Mas a cultura das bandas ainda tem um certo charme — continua sendo algo “cool”, e ainda tem gente fazendo. Durante a pandemia, quando todo mundo ficou preso em casa, as vendas de guitarra explodiram, e isso manteve a cena viva. Então, por mais que seja difícil prever o que vem nos próximos cinco anos, por enquanto ainda existe um futuro pequeno, mas bem promissor, pras bandas.

Qual é um álbum nota 10 pra vocês? Pode ser de qualquer época.

Kuo: Meu favorito de todos os tempos é Stone Flower, do Antônio Carlos Jobim. Sou muito influenciado pela bossa nova, e embora muita gente veja o estilo como algo leve e meio “burguês”, acho que pode ser bem agressivo. É progressivo também — super poético, com raízes nos sons tradicionais sul-americanos e misturado ao jazz americano.

Oh Hyuk: Os álbuns do The Whitest Boy Alive ainda são os que mais me influenciam. Por causa deles, conheci nosso engenheiro, Norman Nitzsche. Ainda escuto esses discos — são orgânicos, minimalistas, mas têm uma densidade absurda.

Junkyard: A Light for Attracting Attention, da banda The Smile.

Os 10 integrantes que participaram deste álbum. Fotografia por Dasom Han.

Nos primeiros tempos, vocês já ouviram comentários desanimadores de gente que duvidava de vocês?

Kuo: Meu maior crítico sempre fui eu mesmo. Minha voz interna era meu pior inimigo. Agora a gente tá trabalhando num novo álbum, e normalmente sou só eu e o produtor decidindo os caminhos vocais. Mas desde que conheci o Oh, fico pedindo pra ele me ajudar a refinar. Ele repara em cada detalhezinho, então não posso mais só cantar do meu jeito de sempre — tenho que treinar, ser preciso. Acho que quando eu passar por esse processo, vou conseguir chegar onde quero.

Oh Hyuk: Eu costumava me afetar muito com esse tipo de gente, então cortei todo mundo da minha vida. Simplesmente parei de ver essas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, também luto muito com a minha própria insegurança. Essas duas coisas — a voz dos outros e a minha própria — pesaram muito pra mim. Mas acho que faz parte.

“Se odiar é o segredo pra virar um músico de sucesso.”

Oh Hyuk: Sempre falo que esse é o ponto de partida pra virar a pessoa que eu quero ser.

Kuo: Mas acho que isso também é uma coisa muito asiática. A forma como a gente foi criado — tá meio que enraizado. Quando a gente era criança, mesmo tirando um A, os pais perguntavam por que não foi A+ [risos]. É difícil desenvolver autoestima quando você tá sempre correndo atrás de um padrão que nunca para de mudar. A gente quer validação, mas tem que conquistar do jeito mais difícil. Mesmo hoje, não sei se posso me chamar de músico de sucesso. Se for olhar pelos números, talvez. Mas ainda não sinto isso.

O clipe de “Antenna” traz o ator taiwanês Hsu Kuang-han, conhecido por Someday or One Day, e Leah Dou, cantora sino-hongkonguesa também famosa por ser filha da icônica Faye Wong.

Quais são os lugares preferidos de vocês em Taiwan?

Kuo: Um dos nossos lugares favoritos, com certeza, é o Da Shi Xiong, um restaurante de macarrão com carne. É meio escondido — não é o mais limpinho ou bem decorado, mas é super autêntico e tem aquele clima caseiro, meio faça-você-mesmo. Eu ia muito lá quando ensaiava perto, e quando levei os caras, fiquei na dúvida se eles iam curtir por causa do ambiente... mas acabou virando um dos lugares preferidos do grupo.

Sobre o que vocês mais têm conversado ultimamente?

Kuo: Tem uma coisa em Taiwan chamada Black Magic, ou Nirvana Audio. É um dispositivo USB que diz usar física quântica pra melhorar o som. E o mais louco: você nem precisa conectar — só de deixar ele perto do seu equipamento, já era pra melhorar o áudio.

Oh Hyuk: É, esse tem sido um dos assuntos que mais temos falado ultimamente.

Kuo: Vai além da inteligência artificial. Tá tipo 50 anos na frente da IA. É quase como o gato de Schrödinger — se você não observar, não sabe se tá funcionando ou não. Tudo depende da sua fé. Pode ser só psicológico, mas é isso que torna tudo mais interessante.

Oh Hyuk: No fim das contas, é basicamente uma questão de fé [risos].

Nos bastidores da turnê AAA. Fotografado por Dasom Han.

Algum artista novo chamou a atenção de vocês recentemente?

Oh Hyuk: Conheci recentemente um cara jovem chamado Jose Wong, de Hong Kong — a banda dele se chama ABCD. Ele tem só 23 ou 24 anos, mas já tem uma visão muito afiada. Ouvi dizer que ele trabalhou com design pra MSCHF, e toda a abordagem dele é bem inovadora.

O pop-up da AAA contou com colaborações de várias marcas de moda. Parece que vocês tiveram um papel na curadoria. O que fez vocês escolherem essas marcas em específico?

Oh Hyuk: Sim, fizemos o pop-up inspirado em tênis de mesa no Japão, Seul e Taiwan. Antes desse projeto, eu não conhecia muito a cena de streetwear em Taiwan, mas no final acabei me apaixonando pelas marcas de lá. nul1.org, LTTT, Plateau Studio, Wisdom e PRETTYNICE — todas estão fazendo coisas interessantes, acho que trazem algo novo pra cena. Foi muito legal colaborar com elas.

O que vocês acharam da crítica do Derrick Gee?

Oh Hyuk: Alguém me mandou, e no começo os views estavam normais. Aí, do nada, explodiu. Ouvi dizer que depois da crítica dele, a faixa “Aaaannnntttteeeennnnaaaa” — que é basicamente uma versão desacelerada de “Antenna” — virou a música mais ouvida do álbum. Então, fica aqui meu salve pro Derrick Gee [risos]. É raro algo assim acontecer, ainda mais com música ambiente. Essa versão nunca foi feita pra ser um hit — ela é lenta e quase ninguém pararia pra escutar. Mas olha só onde chegamos.

Kuo: Na verdade, tudo começou com um erro. Tem uma função no Pro Tools que permite desacelerar a faixa pela metade pra checar pontos de edição. Nosso engenheiro, o James, usou isso enquanto ajustava umas coisas, e quando a gente ouviu, pensamos: “Uau, isso soa muito legal.” A desaceleração digital destacou vários detalhes inesperados — os graves ficaram mais intensos, parecia até uma massagem no ouvido. A gente acabou abraçando a ideia, mas reorganizamos bastante coisa. Não foi só desacelerar e pronto — adicionamos camadas e reconstruímos tudo a partir disso. Mas, sinceramente, música ambiente não costuma ter hits. Os únicos que chegam perto disso são o Music for Airports, do Brian Eno, ou alguma coisa do John Cage.

Imagens dos bastidores da turnê AAA. Fotografadas por Dasom Han.

Ouvi dizer que AAA significa “Access All Areas”, como um símbolo do esforço de quebrar barreiras culturais. Vocês acham que essas barreiras ainda existem em 2025?

Kuo: Ainda existem, sim, mas acho que a música tem um poder único de atravessá-las. É quase como uma linguagem inferior — algo que existe abaixo das palavras. Mesmo que a gente não tenha o mesmo histórico ou cultura, ainda dá pra se conectar de forma profunda através do som.

Mesmo entre a Coreia e Taiwan, há diferenças culturais pequenas, mas perceptíveis. Por exemplo, na Coreia, quando uma banda termina um ensaio ou uma gravação, é obrigatório sair pra comer junto — não tem como escapar. Em Taiwan, a gente também faz isso às vezes, mas a pressão não é tão forte. Não é algo bom nem ruim — só um reflexo de histórias e tradições diferentes.

Mas, no fim das contas, a música ultrapassa tudo isso. Uma canção feita por um time da Coreia e de Taiwan pode tocar ouvintes no Japão, na Tailândia ou em Singapura. Essa é a beleza: a música circula livremente pelas fronteiras, mesmo quando as pessoas não conseguem.

Vocês estão no meio de uma turnê. Quais são os planos pro restante do ano?

Oh Hyuk: No momento, estamos focados em trabalhar no nosso novo álbum. Depois que a turnê acabar, vamos mergulhar de vez nesse processo e, com sorte, seguir direitinho o cronograma de lançamento. É um período corrido — depois que lançarmos os novos álbuns do HYUKOH e do Sunset Rollercoaster, talvez a gente comece o Capítulo 2 do AAA.



Por: Hyunji Nam
Fotografia: Dasom Han, Zhong Lin
Participações: HYUKOH, Sunset Rollercoaster
Data: 9 de abril de 2025

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